O QUE É A PEA?

Bleuler utilizou pela primeira vez a expressão “autismo” para designar a perda de contacto com a realidade, o que acarretava uma grande dificuldade ou impossibilidade de comunicação (Gadia, Tuchman & Rotta, 2004). Posteriormente, em 1943, Kanner adicionou a esta expressão um comportamento característico que era observado em 11 crianças: um comportamento bastante original; sendo assim atribuído um novo significado ao “autismo” (Gadia, Tuchman & Rotta, 2004). Em 1944, Asperger descreveu que havia observado casos que tinham algumas características de autismo (dificuldades de comunicação social) mas que as crianças tinham inteligência normal.

Assim, deixou de se pensar no autismo como uma doença e passou a pensar-se num distúrbio que afecta o neurodesenvolvimento, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e vários graus de severidade (Gadia, Tuchman & Rotta, 2004). Esta variedade da qualidade e quantidade do distúrbio/perturbação faz com que não seja uma condição de “tudo ou nada” mas sim um continuo que pode ser mais suave ou mais grave, daí a designação de Espectro. Este conjunto de perturbações tem então o nome de Perturbações do Espectro Autista (PEA) que é distúrbio do comportamento que consiste numa tríade de dificuldades que se enquadram no domínio social, domínio da comunicação e domínio emocional (jogo imaginativo/simbólico).


Domínio Social:

  • Parecem viver no seu próprio mundo, desligadas, desinteressadas e insensíveis aos outros
  • Grande dificuldade em interagir com outras crianças: partilhar, cooperar ou jogar à vez, são para eles tarefas muito difíceis
  • Seres humanos, animais e objectos poderão ser tratados da mesma forma
  • Na maioria das vezes não respondem quando o seu nome é chamado
  • Por vezes, há tendência para a agressividade quando a criança se encontra num ambiente perturbador, ou quando está zangada, frustrada ou sob o efeito da sua hipersensibilidade aos estímulos
  • Aversão ao contacto físico
  • Falta ou diminuição da capacidade de imitar
  • Ausência de expreção facial na maioria dos casos
  • Hiperlexia (capacidade precoce para leitura e dificuldade no processamento da linguagem oral)


Domínio da Comunicação/Linguagem:
  • Perturbações da linguiagem (tanto na compreensão como na expressão), podendo por vezes haver mesmo uma ausência da mesma, levando a pensar em surdez
  • Se existe linguagem, o vocabu lário é pobre
  • É frequente não usarem o eu (ulitilzam o seu próprio nome)
  • Repetem palavras de modo estranho, como que em eco, sobretudo palavras ou frases que acabaram de ouvir (ecolália)
  • Problemas na comunicação não-verbal: mantêm-se muito próximas ou muito afastdas dos interlocutores
  • Olham para os lábios, em vez de olharem para os olhos durante a comunicação
  • Fazem um uso muito pobre da mímica facial ou dos gestos
  • Falam, por vezes, de uma maneira cantada e monocórdica, a propósito de um número restrito dos seus temas favo ritos, sem se preocuparem com o interesse da pessoa com quem falam
  • Mostram muitas vezes alterações fonológicas e semênticas, defeitos na articulação de palavras e instabilidade no timbre e tom de voz


Domínio Emocional e Compo
rtamental:
  • Tónus muscular baixo
  • Podem cansar-se rapidamente
  • Dificuldade na manutenção da posição erecta, ou quando o seu pé deixa de tocar no chão
  • Apraxia (Não sabem o que fazer, nem como fazer. Por exempo, se dizemos à criança para calçar as botas, ela não o sabe faz er)
  • Tendem a entregar-se a jogos e rotinas repetitivas, de forma isolada, como por exemplo, fazer girar objectos
  • Percebem o mundo por partes
  • Têm com frequência, particularemente em situações de angústia e excitação, movimentos repetitivos com as mãos, dedos, etc. (Por exemplo, abanar as mãos como a imtar um passarinho)
  • Podem deixar-se caír ao chão propositadamente
  • têm pouca capacidade para julgar a s ua força
  • Grande rigidez do pensamento e comportamento, por vezes com crises de auto e heteroagressividade, face às mudanças de rotinas ou do meio que as rodeia, ou quando por vezes são contrariadas
  • Ligações bizarras a certos objectos ou partes destes
  • Por vezes são extremamente sensíveis a cheiros, sabores e sensações tácteis
  • A hiperactividade é um problema comum em certos casos
  • Podem existir talentos especiais, por exemplo para o cálculo, a música ou o desenho (Muitas vezes confundido com sobredotação). Por exeplo, podem ser capazes de saber todas as estações das linhas do c omboio.
  • Movimentos estereotipados repetitivos (Balançar-se, tocar nos cabelos, bater na cabeça, entre outros)
  • Têm preferência para dormir em locais apertados. Por exeplo, caixas.
  • A sua sensibilidade fora do comum ao tacto, pode contribuir para a resistência às carícias
  • Agitação, frustração desproporcional
  • Acçõs ineseradas para determ inados contextos
  • Dificuldade em expressar os seus estados emocionais e em compreender os estados emocionais dos outros
  • Vocabulário emocional limitado
  • Medos exagerados e invulgares
  • Dificuldades na resolução de problemas e controlo nos impulsos
  • Ansiedade como respota à expressão de afecto por parte dos outros



No Brincar:

  • Apego a determinados objectos
  • Diminuição da imitação
  • Uso funcional dos objectos limitado
  • Prefrência pelo brincar construtivo
  • Preferência por puzzles
  • Jogo simbólico limitado (Por exemplo, quando com a nossa mão imitamos uma pistola, a criança com PEA não percebe que a mão está a simbolizar uma pistola)
  • Brincar solitário/Dificuldade na interacção social
  • Têm dificuldade em mante r a atenção selectiva (Conseguir abstraír-se de um barulho qualquer para prestar atenção num jogo, por exemplo)








Referências bibliográficas:
  • Apontamento policopiados do Dr. Hugo Rodrigues da aula de dia 15 de Dezembro de 2008
  • Cumine, V., Leach, J. e Stevenson, G. (2006). Compreender a Síndroma de Asperger - Guia prático para Professores. 1ª edição, Porto Editora, Porto.
  • Child and Adolescent Mental Health. (2007). Acedido em: 16 de Dezembro 2008, em: http://www.healthsystem.virginia.edu/uvahealth/pedsmentalhealth/pdd.cfm
  • Gadia, C., Tuchman, R. & Rotta, N. (2004). Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. Jornal de Pediatria, v.80, nº2, pp. 83-94
  • Miller-Kuhaneck, H., MS, OTR/L, BCP. (2001). Autism: A comprehensive Occupational Therapy Approach. 2ª edição, AOTA Press.

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