CAUSAS DA PEA

Inicialmente pensava-se que o autismo se devia à negligência parental, e outros factores sociais. Actualmente esta causa já não é aceite (Ozonoff & Roggers, 2003). O autismo é descrito como uma perturbação multifactorial, na qual interagem e assumem importância factores genéticos e ambientais. As verdadeiras causas são ainda desconhecidas, contudo, existe um consenso relativamente ao facto de o autismo ser uma perturbação neuropsiquiátrica causada por factores biológicos ainda por definir. Estes factores, combinados com uma vulnerabilidade genética pré-existente na criança dão origem a um anormal desenvolvimento cerebral que se manifesta através das características do Síndrome do Autismo.

Factores Genéticos

A associação de factores genéticos à etiologia do autismo está actualmente bem estabelecida. Já existe consenso na aceitação desta causa, que afecta o desenvolvimento cerebral, o comportamento social e a comunicação, e que leva a interesses restritos e comportamentos repetitivos.
Tal facto é provado pela existência de vários estudos feitos com famílias e gémeos, que permitem demonstrar a elevada influência que estes factores assumem. Por exemplo: A probabilidade de um casal ter um filho com autismo é significativamente aumentada, se estes já possuírem outro filho com a mesma perturbação.
O Síndrome autista é assim considerado uma situação de base genética com uma hereditariedade superior a 90%, e em que existe a interacção de vários genes com o ambiente. (Quinhones-Levy, 2004) As pesquisas efectuadas em diversos ramos da medicina permitem também acreditar que o que realmente é transmitido não é o autismo em si, mas sim uma tendência para o mesmo.
Contudo, e apesar da grande variedade de anomalias genéticas verificadas em indivíduos autistas, a forma como estas afecta o desenvolvimento cerebral ainda não é conhecida.

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Factores Ambientais

O número de estudos sobre possibilidades de existirem factores ambientais inerentes ao autismo aumentou. Tem sido sugerida a interacção destes, com factores genéticos, em que, mutações em determinado (s) gene (s) pode gerar uma predisposição para o autismo que será potenciada por factores ambientais (pré, peri e pós natais). Os factores pré natais estudados são: idade materna, doenças da mãe e consumo de drogas durante a gravidez.
Algumas teorias referem também a existência de zonas cerebrais “frágeis”, que quando expostas a agressões como a um vírus, ou a falta de oxigénio, pode determinar o aparecimento da perturbação autista. (Marques, 1998). O citomegalovirus, herpes e HIV têm sido associados ao autismo (Hangerman, 2003).
Actualmente existem poucas evidências que demonstrem um papel primordial dos factores ambientais no desenvolvimento do autismo. (Brock S, et al. 2006).
A maioria dos investigadores concorda que as alterações comportamentais inerentes ao autismo são resultado de uma disfunção no desenvolvimento cerebral, existindo alteração no tamanho, estrutura e bioquímica cerebrais. (Brock S, et al. 2006)
Estudos neurobiológicos permitiram identificar alterações neuroanatómicas e anomalias a nível do lobo temporal, do lobo frontal, do cerebelo, hipocampo, amígdala, corpo caloso, gânglios da base e tronco cerebral. E também uma diminuição significativa da conectividade entre as áreas cerebrais. Por outro lado, estudos feitos através de neuroimagens permitiram observar que ocorre um aumento do tamanho dos ventrículos e um aumento do volume cerebral.
Estudos comprovam a existência de alterações bioquímicas ao nível cerebral em crianças com autismo, cerca de um terço dos pacientes autistas apresentam elevados níveis do neurotransmissor seretonina, contudo não é totalmente conhecida a relação desta com os sintomas do autismo.

As visões correntes sugerem que vários factores interagem para criar as condições necessárias para a expressão da sintomatologia do autismo. A relação destes factores com os sintomas ainda não foi bem estabelecida. No entanto com o avanço das tecnologias, a investigação também evoluirá, de forma a encontrar o caminho para as causas, e para a melhoria do tratamento. Talvez algum dia os conhecimentos ganhos através da investigação poderão ser usados para prevenção, até lá a intervenção será o factor mais importante nesta desordem.

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Referencias Bibliográficas :

Bailey, A. Le Couter, A. Gottesman, I et al. (1995) Autism as a strongly genetic disorder: evidence from a British twin study. Psychol Med, 25:63.

Muhle, R. Trentacoste, SV e Rapin, I. (2004) The genetics of autism. Pediatrics, 113:e472.

Miller-Kuhaneck, H. e Glennon, T. (2004) Autism – A Compreensive Occupacional Therapy Approach. 2º ed, AOTA PRESS. Montgomery Lane.

Brock, S. Jimerson, S. e Hansen. (2006) Autism at School, identifying, assessing and treating. Nova Iorque.

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